domingo, 14 de junho de 2020

A Praia do Vigário - Câmara de Lobos - Madeira Island

A Praia do Vigário - Câmara de Lobos - Madeira Island
N 32º38.901 / W 016º58.725


A praia do Vigário situa-se na cidade de Câmara de Lobos, a sul do largo da República. Nela termina a ribeira do mesmo nome e que terá dado à praia o epíteto porque é hoje conhecida. Ainda que, ao olharmos para ela não vejamos mais do que uma pequena extensão de calhau, interceptada por uma ribeira em cujo leito correm águas de composição às vezes suspeita e tendo, a norte, uma inestética estrutura de betão que alberga uns balneários e um restaurante, a verdade é que a praia do Vigário tem uma história com alguma riqueza. Com efeito, muita da vida quotidiana da população da hoje cidade de Câmara de Lobos, nomeadamente da sua classe piscatória, passou por esta praia e onde haverá a registar actividades como extracção de areia, lavagem de roupa, preparação de aparelhos de pesca, isto para além de, ainda hoje, constituir o único local, no concelho, a que a população pode recorrer na época estival.

 



O lavadouro da praia do Vigário

Apesar de hoje a água correr em todas as habitações, tal nem sempre foi assim e o recurso à foz da ribeira do vigário, para lavar a roupa, onde a água antes de tocar no mar fazia pequenas poças, constituiu durante muitos e muitos anos uma alternativa para quem não dispunha de água canalizada em casa. Este espaço para além de permitir a lavagem da roupa, reunia ainda duas outras importantes particularidades com ela relacionadas: prestava-se para a secagem da roupa lavada, que para o efeito era cuidadosamente estendida sobre as pedras escaldantes do calhau e permitia que as crianças, que frequentemente acompanhavam as mães nessa sua tarefa de lavadeiras, pudessem brincar, sob o seu olhar atento.

   
 
Extracção de areia

A extracção de areia era outra importante actividade exercida na praia do Vigário, muita da qual era depois transportada em sacas quer para Câmara de Lobos, quer para o Estreito de Câmara de Lobos e outras freguesias limítrofes, não só às costas de homens e crianças, mas também através da utilização de animais, nomeadamente de burros, isto naturalmente quando as posses dos compradores não permitiam suportar os custos do automóvel, ou quando este não era acessível ao local do destino da areia. Um outro importante ponto de extracção de areia, em Câmara de Lobos, era na foz da ribeira dos Socorridos.





Preparação dos aparelhos de pesca

Sendo a pesca uma actividade extremamente importante e havendo necessidade de preparar os denominados aparelhos de pesca, utilizados na faina do peixe espada, a praia do Vigário, pela sua extensão e desimpedimento, constituía um espaço privilegiado para tal operação, como de resto acontecia com o Ilhéu, antes da construção do bairro piscatório.



A preparação dos aparelhos de pesca envolvia não só a confecção das respectivas linhas de pesca, como também o seu tratamento por forma a lhes aumentar a sua consistência e durabilidade.



Primitivamente esse tratamento era feito com um produto à base de ensaião. Para o efeito, o ensaião era triturado em pisões de cantaria e depois aplicado nas linhas, dando-se um aspecto negro. Esta actividade conhecida por farrobo, era habitualmente exercida por indivíduos que só a ela se dedicavam e conhecidos por barrobas. Posteriormente o ensaião viria a ser substituído por uma tinta própria, técnica que durou até à substituição das linhas de (..) por nylon.



A tragédia da praia do Vigário

É aliás, em consequência de todas estas actividades - pesca, lavagem de roupa e extracção de areia - e da movimentação de pessoas que elas faziam deslocar até à praia, que explicam a dimensão atingida por uma tragédia ocorrida no dia 4 de Março de 1930, que viria a ceifar a vida a quase duas dezenas de pessoas. Nesse fatídico dia, devido a uma grande quebrada verificada na costa marítima, próxima do cabo Girão e que terá entrado pelo mar dentro numa extensão de cerca de 200 a 300 metros, gerar-se-ia, devido à deslocação súbita das águas, uma gigantesca onda que invadiu a praia e foz da ribeira do Vigário, levando no seu percurso tudo o que encontrou pela frente, nomeadamente várias das mulheres que na altura lavavam roupas e os seus filhos que nas proximidades brincavam.

De acordo com a imprensa da época, na praia, nessa altura, encontravam-se cerca de 50 pessoas realizando diversas actividades: Numa espécie de lagoa, mulheres do povo procediam à lavagem de roupa; perto delas, em diferentes pontos, seus filhos, que como de costume as acompanhavam, brincavam; alguns homens, entre os quais pescadores, trabalhavam no aparelhamento de duas canoas que deveriam seguir para a pesca, outros cultivavam umas pequenas leiras de terra ali existentes.

Foram os pescadores presentes na praia bem como outros dois que se encontravam no Redondo, hoje largo da República, quem primeiro viram o avanço da onda e logo deram o sinal de alerta gritando para que as lavadeiras fugissem.

As pobres mulheres, dominadas pelo pânico nem tempo tiveram de pensar o que fazer, nem avaliar o perigo horrível que as ameaçava tão de perto. Umas correram a agarrar os filhos e outras ainda tentaram salvar as roupas que tinham estendidas a corar sobre os seixos.

O que se passou não pode ser descrito, o vagalhão entrou pela foz da ribeira arrastando todos quantos não tiveram tempo de por-se fora do seu alcance. Quando a formidável onda desceu, ainda foram vistas entre as espumas algumas mulheres e crianças por entre destroços vários.

A propósito desta tragédia, a veia poética do povo fez eclodir versos, que teriam a pretensão de a descrever e dos quais foi possível recolher as seguintes quadras:

 

Meus senhores este dístico

Foi uma história verdadeira

Aconteceu em Câmara de Lobos

Na nossa linda Madeira

 

A quebrada que caiu

Foi a do Cabo Girão

Levando muitos mortos

P'ra capela da Conceição

 

Na ribeira do Vigário

Mulheres, que roupa lavavam

Surpreendidas pelo mar

Por Nossa Senhora gritavam

 

A esta grande tragédia

Na terça-feira de Carnaval

Veio a Câmara de Lobos

A autoridade do Funchal

 

Quando esta notícia chegou

Ao palácio da fortaleza

Veio o Governo Civil

Ver esta grande tristeza

 

Câmara de Lobos luto vestia

Como símbolo das suas dores

No coração ficou sempre o dia

Em que perderam os seus amores



Fonte: http://www.concelhodecamaradelobos.com/dicionario/praia_vigario.html

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